Hans Robert Jauss e Wofgang Iser enalteceram a cientificidade da literatura ao discutirem a Estética da Recepção, ou seja, o caráter literário de um texto consiste nos pontos de indeterminação que nele estão presentes e que devem ser preenchidos pelo leitor. Desse modo, a incursão a uma obra e sua revisitação – seja por um sujeito específico ou através dos tempos – constituem uma nova leitura, isto é, uma releitura a partir das novas referências e experiências – empíricas ou não – do leitor.
Por conseguinte, a percepção leitora foi a principal engrenagem de projeto interdisciplinar, que envolveu os componentes filosofia, língua portuguesa e literatura, dos professores Igor, Eduardo e Adriane, respectivamente, tendo como corpus o romance Farenheit 451, de Ray Bradbury, publicado originalmente em 1953. Na obra, o protagonista, Montag, faz parte do corpo de bombeiros que, em um futuro alternativo, tem uma função distinta da que conhecemos: incendiar todo e qualquer livro que seja encontrado, à temperatura de 451° Farenheit (aproximadamente, 332°C). Com o decorrer das ações da narrativa, Montag questiona seu ofício, bem como as normas sociais vigentes, modificando sua perspectiva acerca dos livros e de sua sociedade, reconhecendo neles seu valor literário, histórico e sociocultural.
Nesse sentido, as turmas 201 e 202, em grupos, reuniram-se e construíram arcas nas quais foram depositados livros que, para cada aluno, mereceriam ser “salvos”, caso vivêssemos em uma sociedade distópica, como a da obra de Ray Bradbury. Além disso, em cada artefato havia um fundo falso no qual foi depositada uma carta cujo conteúdo buscava justificar a importância da literatura como um bem imaterial da humanidade e o porquê de as obras ali dispostas estarem alinhadas a essa perspectiva.
Com esse projeto, propusemos aos estudantes a compreensão da dimensão do literário: mais que uma disciplina, a literatura, através dos livros, busca nossa humanização na concepção mais ampla da palavra, isto é, tornarmo-nos pessoas melhores. Nesse sentido, um mundo melhor se faz também caso consigamos atribuir significação ao que lemos. Os pontos de indeterminação de um livro, portanto, não são necessariamente dispostos pelo autor, mas por quem torna uma obra definitivamente longeva, atemporal: nós, leitores.
Coordenação Pedagógica