A lição de casa da família atual

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Estimadas famílias,
 

O Instituto Santa Luzia implementou a disciplina Projeto de Vida na sua grade curricular, da Educação Infantil ao Ensino Médio, alinhado a BNCC, pois entende ser fundamental o desenvolvimento do autoconhecimento, inteligência emocional e escolhas profissionais como papel transformador do sujeito em formação. A disciplina conta com material de apoio da metodologia OPEE- Orientação Profissional, Empregabilidade e Empreendedorismo, visando um trabalho de educação com foco na construção de projetos de vida, sustentado em eixos fundamentais para a formação humana. O ser humano desse novo mundo precisa ser honesto e integrado à sua realidade, mas, também, capaz de empreender com ética, proatividade e inteligência social.

Como sugestão de leitura para nossa comunidade educativa, separamos um texto do Léo Fraiman, em que fala sobre a metodologia e nos traz importantes reflexões:
 
 
Neste delicado e desafiador momento que estamos vivendo novos formatos e projetos de vida se impuseram em nossas vidas. De repente tivemos que nos reinventar, que repensar nossas vidas e relações humanas, processo que ainda está em curso haja vista o fato de que ninguém tema certeza sobre os novos tempos. Isso por si só, já nos traz certa angústia.

Para muito além do susto e da dor que temos sentido todos os dias, a OPEE tem proporcionado importantes reflexões e caminhos para repensarmos e redesenharmos nossas formas de vida, com consciência e responsabilidade. Ao longo deste ano todo oferecemos dezenas de interações aos nossos educadores de forma a acolhê-los, inspirá-los e aprender com eles, afinal estamos todos diante de novos tempos e novas necessidades.

Da mesma forma, sabemos que as relações familiares também foram chacoalhadas e todos estão tendo que reavaliar seus papeis, rotinas e tarefas. Se cultivarmos dentro de casa um espírito de cooperação viveremos com mais serenidade estes desafiadores tempos. Com mais companheirismo ninguém fica totalmente sobrecarregado e todos se beneficiam.

O mundo que nos espera no futuro será certamente um mundo em que todos teremos que saber nos virarmos. Na prática, o emprego tem sido cada vez mais escasso, mais precário e as previsões sobre o futuro apontam para um modo de vida cada vez mais assentado em trocas de serviços, parcerias que serão criadas e recriadas de acordo com as necessidades ou oportunidades que se apresentem a cada momento. Se antigamente as pessoas faziam planos para 5 ou 10 anos considerando isso um longo prazo, hoje em dia isso é quase impensável para a maioria de nós.

Isso também aumenta nossa angústia diante do por vir. A boa notícia é que podemos superar a angústia pela fala e pelo ato. Não basta percebermos nossos incômodos, é preciso agir sobre eles, pois é isso que a vida nos convida hoje: renovação. Sofrer e não fazer nada a respeito é sentir que a vida não tem sentido, mas se fazemos algo de construtivo com as nossas dores, ultrapassamos a paralisia da dor com a proatividade do sentido que escolhemos dar a ela.

Este é o verdadeiro espírito de nosso tempo, que foi acelerado pela Pandemia, que vai passar, mas certamente deixará seus efeitos. Quais? Depende de nossas escolhas.

Hoje em dia tem ficado cada dia mais clara a necessidade de uma aliança entre as famílias e as escolas. Sem o apoio dos familiares a instituição escolar não consegue sozinha fazer sua missão, seja em tempos anteriores ao que temos vivido e mesmo quando esta tormenta passar. Estávamos todos tão ocupados, correndo tanto e sem tempo para nada que o modus operandi de muitas famílias acabou sendo a delegação da educação para a escola, padrão que não se sustenta. As ações dos pais e mães constituem pelo menos 50% do resultado que os filhos/alunos obtém. Hoje em dia, com a casa transformada em sala de aula, home office e muito mais isso fica ainda mais evidente. Todos educam, todos são relevantes no processo e por isso todos precisam se ajudar mutuamente.

Para vencer a angústia diante do por vir, precisaremos conversar melhor, aprender a ouvir melhor as dores, as angústias, as necessidades uns dos outros.

Carteirada, omissão, negligência, permissividade e autoritarismo são atitudes tóxicas que não poderão existir em forma alguma, muito menos num cenário pós pandemia, se queremos a formação de crianças e adolescentes sadios, felizes e seguros emocionalmente.

Boa parte do que eles irão pensar, sentir e agir diante de seus próprios projetos de vida dependerá justamente do que eles observarem e viverem a partir das relações entre seus familiares e profissionais da escola.

Há muitos livros, cursos, treinamentos sobre como falar bem, como transmitir nossas ideias, como encantar, convencer. Mas a literatura e os recursos sobre o ouvir, o acolher, o compreender, sobre a formação de alianças assentadas na empatia, na solidariedade e na compaixão ainda é escassa. Ou vencemos todos, juntos, ou perdemos, tudo o que nos importa.

E não pensemos que há algum exagero aqui. Se os índices de ansiedade, depressão, automutilação e suicídio já eram elevados em 2019, imagine para que nível poderão ir se nos próximos meses e talvez anos, não aprendermos todos a cooperar de forma mais sadia e co-responsável. O ditado antigo de que a minha liberdade termina aonde começa a do outro deve ser hoje em dia associado a outro: o bem estar do outro começa também com uma atitude minha.

Será preciso que todos abram mais seus olhos para os demais, percebam o outro como parte de si. Da mesma forma como não podemos dizer que estamos bem se “apenas” nossa barriga dói,  em um mundo cada dia mais conectado e diante de uma convivência cada vez mais intensa precisaremos realmente cultivar dentro de casa a percepção de que ajudarmo-nos uns aos outros é a norma.

Só é bom para um se for bom para todos, este deve ser o norte de nossas relações. Assim como aprendemos a nos protegermos do vírus e a nos cuidarmos como forma de proteger os demais teremos que adotar a mesma postura nos relacionamentos entre os profissionais da escola e os pais e mães.
Com uma frequência maior do que jamais imagináramos hoje em dia lavamos as mãos, mas temos nossos corações limpos uns para os outros?

Tiramos os sapatos para entrar em casa, mas temos tirado nossa raiva da frente quando pedimos ajuda ao outro ou quando estamos nos sentido impotentes?

Queremos que os outros nos tratem bem, mas medimos nossas palavras ao nos dirigirmos a palavra?
Tanto quanto cuidar das infecções viróticas será imperioso tratar de não sermos pessoas tóxicas umas para as outras, pois convivemos tanto em casa, isolados, impotentes, ameaçados, que é fácil que transformemos nossas raivas e angústias em ataque a nós mesmos, ou aos outros.

Como é fácil atacar o outro quando algo em nossas vidas sai diferente do que esperávamos. Como é simples jogar a responsabilidade para o outro quando nós mesmos não fazemos nossa lição de casa existencial. Nada disso funciona.

É preciso aprender a falar sobre nossas dores, sobre nossas angústias em outro tom, mais cuidadoso, mais sereno, mais humano e humanizado. Mas para além do falar é preciso agir.

Fale em tom de voz baixo, no positivo, não se sobrecarregue com mimos descabidos, nem caia no perigo tão comum de bajular seus filhos como se eles fossem coitadinhos. Não são. Todos estamos vivendo uma situação de restrição, mas também de crescimento e precisamos dar mais tinta ao segundo aspecto, caso contrário nos aprisionamos excessivamente nos impedimentos e a alegria de viver, a criatividade no cotidiano e a inventividade, hoje em dia tão necessárias, nos escapam às mãos. Com mais estresse, o cérebro secreta mais cortisol, hormônio que age na contramão da aprendizagem e da criação. Nãos e trata aqui de negar as adversidades mas sim de adotarmos uma postura de procurar com afinco caminhos e possibilidades para reinventar nossas vidas para além da vitimização.

Viktor Frankl, um dos autores mais relevantes para a Metodologia OPEE chega a falar em um otimismo trágico. Em sua obra O sofrimento humano ele nos ensina que o ser humano é o único capaz de sofrer, de assumir uma atitude positiva e de superação diante das adversidades e do trágico da vida. Somos escolhedores, nosso destino não está garantido, é verdade, mas muito menos está condenado a nada.
Crianças e adolescentes se adaptam muito mais facilmente quando percebem que seus pais e mães enfrentam as coisas com serenidade e sabedoria, pois seus cérebros ainda estão muito permeáveis aos que observam em seus modelos de conduta. Lembre que eles aprendem a ver a vida em boa parte a partir do que vivenciam dentro de casa. Assim como fazemos em nossas aulas, propomos que dentro de casa sejam trabalhadas algumas atitudes que podem ser úteis a todos:

  • Crie e recrie os combinados. Nada de sobrecarregar um (em geral a mãe) para que os demais fiquem vivendo como pequenos imperadores ou princesinhas. Todos devem trabalhar pela paz dentro de casa e pelos confortos que são desfrutados. As atividades de compras, limpeza e organização devem ser dividas entre todos, sem exceção.

  • Pelo menos uma vez por semana façam uma roda de conversa. Perguntem como cada um está se sentindo, o que está bom no convívio, em que podemos nos ajudar, o que podemos rever em nosso cotidiano, o que estamos vivendo, o que temos sentido. Cada um fala segurando um objeto e os demais só podem falar quando o que está se manifestando terminar.

  • Agradeça quando perceber atitudes positivas de cooperação, respeito, responsabilidade. Quando perceber que os filhos e filhas estão se esquivando de suas obrigações com o lar e os demais, sente-se e reconverse, não aceite deles menos do que podem dar. Se for o caso algumas ações podem ser renegociadas, mas sem privilégios indevidos aos meninos por exemplo.

  • Mantenha uma rotina clara para todos com os momentos de estudo, lazer, esporte. Assim fica mais clara a cadência da vida, sem o perigo de se perder diante das vontades, ou da falta de vontade momentânea.

  • Detox sim. Celulares não devem estar presentes na mesa, dentro dos quartos e no banheiro. Todos podem deixar os aparelhos numa caixa de detox na sala para que se acorde com um despertador comum e se evite assim a sobrecarga de uso do cérebro e o vício digital, além do pernicioso hábito de phubbing, que é falar com o outro olhando a tela do celular.

  • Aulas devem ser assistidas com a webcam ligada, banho tomado e se for o caso uniforme. É chato? Não, é o certo. Simples assim. Sem estas atitudes, é fácil que os alunos se dispersem ainda mais e aprendam a desonrar justamente aqueles que estão dando o seu melhor para educar, inspirar, orientar, orientar. No futuro seus filhos terão que lidar com restrições, perdas, limitações, com hierarquia e com autonomia em suas vidas. É melhor que começam agora, pois esperar sentir sede para cavar o poço pode ser tarde demais.

  • Se todos sujam, cabe a todos limparem.

  • Se todos usam, cabe a todos guardarem.

  • Por favor, com licença, obrigado, desculpe são palavras mágicas e devem ser praticadas se queremos ambientes e relações humanizadas.
Há momentos em que podemos nos dar ao luxo de pensarmos no que queremos da vida. Hoje em dia, é preciso, como diria Frankl saber ouvir o que a vida espera de nós. Acreditamos que ela nos convida  a nos responsabilizarmos pela vida boa e feliz que queremos e podemos viver. Viva à vida

 

Fonte: https://capacitaopee.com.br/a-licao-de-casa-da-familia-atual/ 

 

 

Coordenação Pedagógica

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